Pesquisa realizada pelo SPC e pela CNDL com consumidores inadimplentes em todo o país mostra que o endividamento causa problemas como ansiedade, angústia e baixa autoestima.
Não é apenas o bolso dos brasileiros que está sofrendo com a crise econômica: os efeitos do endividamento chegaram com força na mente deles. Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 69% dos consumidores inadimplentes estão mais ansiosos – um crescimento de nove pontos percentuais em relação ao ano passado. E não é só: uma outra série de sentimentos vem atormentando a população do país, tais como insegurança (69%), estresse (64%), angústia (61%) e desânimo (58%).
A pesquisa ouviu 600 consumidores inadimplentes há pelo menos 90 dias, de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras, com uma margem de erro de quatro pontos percentuais. Os números mostram ainda que um quarto dos inadimplentes ouvidos (25%) admite ter se tornado mais desatento e menos produtivo no trabalho após o endividamento – também nove pontos percentuais acima do que foi apurado em 2016. Diante dessa situação, 21% estão mais irritados com os colegas de trabalho.
O aperto levou a uma nova postura dos brasileiros no dia a dia: 71% dos entrevistados abriram mão de coisas que consumiam antes e 64% cortaram gastos com roupas e sapatos. As saídas para bares e restaurantes foram reduzidas em 57%, enquanto 48% cortaram alimentos supérfluos e 47% estão evitando gastos até mesmo com itens de primeira necessidade. Por outro lado, o vício aumentou. A cada 10 pessoas que participaram do levantamento, duas descontam a ansiedade no cigarro, álcool ou comida.
Quem não tem vícios está buscando algum tipo de atividade para esquecer os problemas. Essa foi a alternativa encontrada por 47% das pessoas que responderam ao questionário. Outros mesmos 47% dos inadimplentes partiram para a prática de alguma atividade que os façam esquecer os problemas gerados por suas dívidas.
Até porque, aumentou nos últimos meses o percentual de entrevistados que estão mais preocupados por se encontrar com as finanças em dificuldade. No ano passado, os inadimplentes com alto nível de preocupação eram 42% e, neste ano, eles somam 56%. Apenas 6% dos entrevistados podem se gabar de não ter nenhuma preocupação com a conta bancária, enquanto 12% disseram que o nível de preocupação é baixo ou muito baixo.
Alerta Diante de um número tão pequeno, o educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli tem na ponta da língua o discurso para o momento de crise. “As pessoas têm que ver a crise como um aprendizado, e não apenas como um momento para reclamação. O momento é de analisar se realmente estava vivendo no seu padrão, se estava preparado para uma crise. E se a vida voltar ao normal, não pode voltar a ter os mesmos hábitos que o levaram a esse endividamento e consumo excessivo”, alerta Vignoli.
E engana-se quem pensa que a falta de controle sobre as finanças está restrita às classes mais baixas. A pesquisa mostrou que esse é um problema que atinge todas as classes sociais. “O controle das contas independe da quantidade de dinheiro”, explica. Dessa forma, a melhor maneira de enfrentar o problema é se organizar para conseguir poupar o máximo possível, ou pelo menos 10% da renda total. “Esse discurso dá a impressão de que não é para gastar, ou não se quer que as pessoas progridam, mas é o contrário. O que defendemos é que é preciso consciência do dinheiro, o que muitas pessoas também da classe A não têm.”
Fonte: Correio Braziliense
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